SKATEBOARD AGORA É OLIMPICO!!!
Bem, vamos começar com a primeira alegação
e questionamento da grande maioria: Skate nas olimpíadas? Mas skate não é
esporte!
Se você acha que skate não é um esporte,
você também não deve considera-lo uma atividade esportiva, certo? Então pense
duas, três ou muitas vezes antes de falar com seu medico quando ele te
perguntar se você pratica alguma atividade. Dizer que você anda de skate de
três a quatro dias por semana pode te caracterizar como um esportista e te
excluir do movimento rebelde, anarquista, underground e marginal que a maioria
quer insistir que existe.
Já pensou nisso?
Consequente a isso, parece que há uma
preocupação dos skatistas em não se tornarem atletas, em uma incessante
discussão se skatista é atleta ou se skatista é skatista e ponto. Oras, todas
as manhas, quando estava a caminho do trabalho passava pelo Parque do
Ibirapuera. Com chuva, frio, sol, calor, vento, o que fosse, via pessoas correndo
pelo Parque. Essas pessoas que correm lá às 6h30 da manha eram atletas? Pessoas
preocupadas com a saúde? Pessoas praticando o que gostam? Eram profissionais?
Por que diabos eles acordavam as 5h30 para estarem correndo naquele frio?
Talvez a paixão daquelas pessoas pela atividade esportiva tenha as feito sair
da cama tão cedo, assim como a paixão pelo skate faz muitos skatistas passarem
horas no carrinho, viajarem horas para chegarem a uma pista ou mesmo andarem
com lesões graves. Não podemos perder o gás! Não podemos parar enquanto a
sessão está rolando, certo?
Pois bem, isso não fez de você um atleta, mas sim um apaixonado pelo skate (que
você disse lá no medico que não precisava caminhar no parque porque já
praticava uma atividade esportiva)
Dito isso começam os mimimis e blablabás
sobre o uso de drogas. Não da para ser favorável ao uso de qualquer droga.
Fato! Mas ate para isso os skatistas que usam algumas drogas e pretendem ser parte dos jogos
olímpicos não tem muito com o que se preocupar. Pelo menos não teriam se o skate
ja estivesse nos jogos do Rio de Janeiro. Em razão da legalização do uso em
diversos países do mundo, bem como em diversos estados americanos, ou mesmo com
o uso medicinal, o WADA (World
Anti-doping Agency) aumentou os níveis permitidos de THC, de 15 para 150
nanogramas por mililitro de sangue, ou seja, um atleta só será pego no exame antidoping
se tiver usado a droga no dia do exame ou nos dias prévios.
Mas é serio que você skatista foi chamado
para representar o seu país e resolveu usar droga no dia da competição ou nos
dias que antecederam as provas? Esperamos que a resposta seja negativa, pois a
projeção do atleta olímpico na mídia, durante os jogos Olímpicos, é gigantesca
e repercute por anos e ate décadas. Quem não se lembra do famoso corredor canadense
Ben Johnson? Que foi pego por uso de estanozolol, em 1988, nos jogos olímpicos
de Seoul, apos bater todos os recordes nos 100 metros e derrotar seu maior
concorrente, Karl Lewis.
Consequente a todo o acima mencionado,
cumpre bater em outra importante questão, sobre quais as boas consequências que
o skate, como esporte olímpico, trará para o próprio skate?
Apesar de ser um dos princípios olímpicos a
presença de atletas amadores e não profissionais, é difícil entender e
acreditar que grande parte daqueles que estão ali e batendo recordes não sao
profissionais e vivem do esporte, através do patrocínio de grandes marcas do
esporte. Fato.
Este principio começou a cair por terra
quando da presença de atletas do basquete profissional americano, nos jogos Olímpicos
de Barcelona em 1992, oportunidade que pudemos ver o primeiro (e único) Dream
Team em quadra.
Mas e os skatistas? Bem, os skatistas
seguem na marginalidade das leis trabalhistas e essa questão não seria algo
impeditivo a eles, se não pelas marcas, empresas, emissoras e órgãos envolvidos
nos jogos olímpicos.
Esclarecendo, os jogos olímpicos são
televisionados para quase todo o planeta, gerando direitos de imagem e arena
aos atletas profissionais. Esses direitos são negociados com o próprio órgão organizador
do evento, pelo “alegado” amadorismo da competição.
Grande marcas de esporte são patrocinadoras
do comitê olímpico dos países e os skatistas terão que usar os uniformes de
seus países para competir, ou seja, se você é patrocinado pela marca de tênis
‘V”, mas quem patrocina a equipe brasileira é a marca “N” , você terá que usar
a marca e o uniforme da equipe.
E ai surgira um novo conflito jurídico,
quanto aos contratos de patrocínio firmados entre skatistas e marcas.
Alguém pensou em constar alguma clausula
para o caso de ser convocado para o time olímpico não caracterizar falta grave
para denuncia, rompimento ou multa decorrente do contrato??? Se você tem uma
clausula que estipula o uso do capacete com estampas de determinada marca, já
pensou em constar alguma clausula para o mesmo caso? Equipamentos de segurança
serão obrigatórios para as modalidades? Qual marca estará confeccionando os das
equipes nacionais?
Vejam que há diversas questões jurídicas
contratuais, trabalhistas, midiáticas e esportivas que o mundo do skate terá
que encarar nos próximos anos. Um novo espaço para muitos juristas trabalharem?
Acredito que ate nesse caminho o skate nas olimpíadas tenha colaborado em muita
coisa.
E é exatamente ai que temos que chegar e
acreditar.
Para você que anda de skate, por apenas
amar esse carrinho, o skate nas olimpíadas não vai mudar nada no seu estilo de
vida, nas suas sessões, no seu equipamento, nem na sua vida “marginal”,
contracultura, rebelde, anarquista, punk ou o que quiser.
Em contra partida o skate olímpico trará
uma necessidade de representação mais forte das confederações, criara uma nova
geração de skatistas voltados ao esporte olímpico, talvez um maior
desenvolvimento de equipamentos e materiais, investimento das marcas nos seus
competidores, profissionalismo e maior respeito aos direitos civis e
trabalhistas dos skatistas, que também amam o carrinho como você.
E no final, o que tudo isso mudou no seu
role? Nada!!!!
Boas sessões e vamos torcer para o nosso
país ganhar algumas medalhas nas olimpíadas.
Sobre o autor: Alexandre A. Costa é amigo, advogado, professor, presidente do TJD da Confederação Brasileira de Skate, formado em Ciências Jurídicas e Sociais, especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, Especialista em Direito Esportivo e comparado, Master of Business Administration em Direito Empresarial, organizador de eventos de skate e skatista desde 1981
Alexandre Alves Costa - Alexandre Birds